A taxa Selic pode se manter em alta e o presidente sobe o tom contra o Banco Central e ao presidente da autarquia.
Hoje, dia 21 de março, o Comitê de Política Monetária (Copom) está reunido para definir a taxa básica da economia, a taxa Selic. Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou como irresponsabilidade uma nova manutenção no patamar da taxa básica de juros em 13,75%, o patamar mais alto desde 2016.
Segundo o presidente, não é preciso ter pressa e há que se ter tempo para discutir mais o modelo. Disse, ainda, que a apresentação do novo arcabouço fiscal só deve ser feita em abril, depois da sua viagem à China.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse, também, não haver fundamento para o atual valor. Alckmin classificou os juros altos como um problemão, por dificultar o consumo, inibir investimentos e aumentar a dívida do governo. Ele aproveitou para exaltar o novo arcabouço fiscal, que o governo prepara.
“Acho que o governo encaminha, nos próximos dias, o projeto de ancoragem fiscal, que vai, também, combinando a curva da dívida: de um lado, superávit; de outro lado, o controle do gasto. Uma medida inteligente, benfeita, que vai trazer bastante segurança na questão fiscal“, avaliou Alckmin.
Outrossim, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que colocou panos quentes na relação entre o Bacen e o Planalto, tentou baixar o tom bélico vindo do governo. Uma das estratégias da sua Pasta era mostrar sinais do lado fiscal para que o monetário também pudesse agir, ou seja, baixando os juros.
UMA ANÁLISE CLÍNICA
Convidado como palestrante, o professor da Universidade de Columbia e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz, afirmou que a taxa é chocante e equivale a uma pena de morte. Em linha com a ofensiva do governo contra a Selic elevada, Joseph Stiglitz se disse surpreso com o fato de o país conseguir se manter economicamente com uma taxa de juros em tão alto patamar. Ademais, nesta terça, centrais sindicais fazem manifestação contra o patamar da Selic. Além disso, ao menos quatro montadoras instaladas no país vão conceder férias coletivas nas suas plantas pela queda da demanda, prejudicada pelo crédito encarecido.
A SELIC
Durante a conversa, Lula também se queixou das críticas que recebe por criticar a atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. As declarações ocorrem em meio à expectativa do mercado pelo desfecho da reunião do Copom. O consenso entre os investidores é que o Bacen mantenha a Selic em 13,75%, mas as atenções se voltam, sobretudo, ao tom do comunicado a ser divulgado amanhã, dia 22, e da ata do encontro, na semana que vem.
É consenso do mercado financeiro que a autoridade monetária deva decidir, pela quarta vez consecutiva, pela manutenção. Entretanto, há uma percepção de que a apresentação do novo arcabouço fiscal pelo Ministério da Fazenda pode facilitar uma antecipação da redução dos juros no país.
Juros altos é bom?
Para ter popularidade, o chefe do Executivo faz de tudo; desde um comício com a massa aqui até uma articulação com a elite acolá. Hoje, ter uma taxa de juros tão alta, quase 14%, pasmem!, é bom para quem? Bom, para os investidores, ora. Contudo, preciso aqui, ainda, reclassificar esses investidores em renda fixa, aquele em que já se sabe o montante final dos investimentos. É só usar a fórmula do Juros Compostos que aprendemos em Matemática Financeira no colégio. Sim, pois, renda variável, como ações na Bolsa de Valores, ou mesmo as compras do supermercado ficam difíceis; tudo oscilando muito e vítima da inflação respectivamente.
Ah, o Brasil é o país da renda fixa, mas também da economia doméstica, então manter o equilíbrio entre deixar o dinheiro na poupança e ir às compras é um verdadeiro jogo de matemática, nem precisa conhecer a tal fórmula, basta saber que o salário mínimo não consegue acompanhar a inflação, mesmo com a taxa Selic tão alta, que seria para blindar o IPCA. É um absurdo a taxa de juros em quase 14%, pois, nesse momento, o Brasil tem o juro mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda nem excesso de demanda.
E findando, leia: “eu vou continuar batendo, eu vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros, para que a economia possa ter investimento”, disse o presidente Lula. Nobre leitor, parece que a briga de Lula contra Campos Neto arrastar-se-á até 2025, até que Haddad largue o Ministério da Fazenda e vá, portanto, assumir a Presidência do Banco Central… spoiler? Bom, é tudo aqui em Brasília mesmo.
De Brasília, Harrison S. Silva, para o Portal Política