Os olhos do mundo inteiro estão atualmente voltados para a Venezuela, acompanhando com indignação e angústia o processo eleitoral daquele país. Não é para menos: depois de mais de uma década de crise humanitária e migratória que afundou os venezuelanos na miséria e criou ondas de refugiados, o mundo quer saber se Nicolás Maduro tem legitimidade para continuar no poder.
Pesquisas eleitorais independentes vinham apontando que o povo venezuelano deseja o fim no arbítrio chavista que controla o país desde 1998. Por isso mesmo, a fraude eleitoral que vimos concretizar-se no último 28 de julho vinha sendo tramada há meses. Não deu outra: sem qualquer transparência, o órgão responsável pela organização das eleições na Venezuela, que é controlado por Maduro, o declarou reeleito com 51% dos votos.
O que não se esperava, no entanto, era que a oposição se organizasse para obter cópias das atas de mais de 80% das seções eleitorais. Isso possibilitou uma apuração paralela que apontou Edmundo González Urrutia, o candidato da oposição, eleito com mais de 60% dos votos. Os venezuelanos foram, então, para as ruas em protestos massivos, que vêm sendo duramente reprimidos pelas forças de segurança leais a Maduro. Há relatos de milhares de prisões arbitrárias e os mortos já se contam às dezenas.
O que vem chamando a atenção do mundo é a posição leniente, hesitante, quase omissa, do governo brasileiro frente a toda essa crise. Lula pode tentar disfarçar que não torce por e nem colabora com governos ditatoriais, mas os fatos apontam para o contrário. A sua leniência com Maduro já ficou evidente na entrevista em que o presidente afirmou que na Venezuela impera a normalidade e que o Judiciário teleguiado pelo governo chavista é capaz de resolver quaisquer conflitos. Depois, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST, satélites de Lula, se apressaram em reconhecer como legítima a vitória de Maduro e cumprimentá-lo pela reeleição.
Como era de se esperar, fecharam os olhos para os abusos que vêm corroendo a legitimidade democrática. Dá para perceber que, para essa gente, o apreço à democracia só merece respeito se for para beneficiar os adeptos de sua ideologia. A cooptação pela ideologia de esquerda também cegou a diplomacia brasileira. Começou com a ida de Celso Amorim à Caracas, para avalizar e aplaudir de perto e de pé a trapaça que se viu nessas eleições, e terminou com a abstenção na Organização dos Estados Americanos (OEA) na votação de uma resolução que reprovava a conduta do governo chavista e exigia a apresentação das atas eleitorais.
É constrangedor assistir ao aparelhamento ideológico promovido por Lula na nossa diplomacia, e perceber como ele está comprometendo a imagem do Brasil no exterior. Em nome de defender ditadores e legitimar eleições fraudadas, o atual presidente joga no lixo o respeito à prevalência dos direitos humanos e a autodeterminação dos povos, princípios constitucionais que devem reger as nossas relações internacionais. As mãos de Lula estão sujas com as lágrimas e o sangue dos venezuelanos.
Artigo escrito pelo senador Marcos do Val e editado pelo jornalista Harrison S. Silva