Os impactos da polarização caiadista e marconista em Goiás para a cidade de Pirenópolis

Fred Le Blue Assis (Idealizador do Inspiri; Doutor em Planejamento Urbano UFRJ e Pós Doutorando em Territórios Culturais do Cerrado UEG)

Foto: Reprodução

O projeto educomunicativo e multimídia Inspiri e o grupo de pesquisa Arteteturismo, bem como os seus subprodutos (agenda de inovação e sustentabilidade “PIRI’nova” e rede de empreendedores econômicos e culturais “Pireneus 360°”) têm atuado pela divulgação turística e cultural de Pirenópolis desde o cenário de recessão pós-pandêmica em 2022, por meio da criação de um acervo fotomusical sobre a paisagem e o patrimônio cultural da cidade de Pirenópolis. Atuando com planejamento urbano, memória social, midia-advocacy e (city)marketing digital e em escala regional e nacional, inclusive, despertando os holofotes para a cidade de diversas equipes de produção e jornalismo.

 

“Inspiri” tornou-se, de certa forma, um legado apartidário e atemporal de Pirenópolis. Apesar de não ser associado ao grupo político do Marconi, que tem no Vale do São Patrício e Serra dos Pireneus seu maior estoque político, iniciativas culturais e políticas, sobretudo, de Pirenópolis, acabam sofrendo os efeitos do antimarconismo em Goiás, para as quais qualquer sinal de avanço ou investimento tende a ser visto pelos burocratas e militantes caiadistas, que estão no poder, como afronta à ascendência vilaboense do governador Caiado. Ronaldo nunca escondeu sua preferência “vilavelhense” (“é vila!”) em termos de políticas e investimentos públicas para seu berço político (Cidade de Goias), assim como, muitos pirenopolinas marconistas não o fizeram, em relação, à Marconi Perilo, que, de fato, foi muito leal com a cidade (construindo universidade e maternidade), mas sem deixar de ser também com a Cidade de Goiás, que, inclusive foi tombada em sua gestão em 2001.
Cabe lembrar que esse período coincidiu também com a participação do historiador Nasr Chaul na presidência da Agepel, que deixou como legado os dois eventos mais significativos do calendário cultural goiano: o Festival de Vídeo e Cinema Ambiental na Cidade de Goiás (Fica) e o Canto da Primavera em Pirenópolis. Sabemos que essa cavalhada política entranhada também no aparato político-administrativo é promovida, sobretudo, por Caiado, que fora alcoviteiro do Palácio das Esmeraldas durante a Era Marconi, mas também por parte de alguns gestores políticos radicais de Pirenópolis, refratários a parcerias institucionais com pessoas sem vínculo familiar com Pirenópolis, o que não é o caso de Marconi. Essa politização e polarização ideológica das políticas públicas tem prejudicado a população local pirenopolina, mormente, seus povoados que apresentam ainda IDHs pouco condizentes com o espírito bistronista gourmetizado do centro histórico de Pirenópolis.

 

Contra este tipo de turismo instagramável de quinta a domingo temos apontado caminhos alternativos a partir do conceito do turismo de imersão, o que seria, no entanto, muito beneficiado se implantado como política a pública cultural e turística. Em face aos interesses comezinhos da política goiana, contribuir para o status patrimonial de Pirenópolis não significa antagonização frontal com Goias Velho e com Ronaldo Caiado, por requalificar a imagem de seus inimigos, no caso, Pirenópolis e, por tabela, Marconi Perilo. Nosso interesse, na verdade, é mais técnico e legal do que político, e diz respeito ao fato de que só a aquisição e manutenção do título de patrimônio da humanidade pela UNESCO, criará uma jurisprudência de controle externo exercido pelo IPHAN e a UNESCO, para haver mais rigor na preservação, gestão e educação patrimonial em Pirenópolis.
A partir da luta pelos direitos fraternais de terceira dimensão, que inclui a imperatividade de proteção dos ativos culturais, urbanos e naturais para as gerações futuras, a arquitetura, a natureza e a cultura de Pirenópolis estarão salvaguardadas da ação deletéria da política polarizadora e turismo predatório, que criou um cenário paradoxal de déficit habitacional apesar de inúmeras casas de temporadas vazias dias de semana. A proposta que apontamos não é refratária à atividade do turismo e da política, somente pretendendo renovar e requalificar suas atuações em observância às premissas globais do desenvolvimento sustentável.

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