Um ano depois dos ataques golpistas que abalaram a República, ao menos quatro frentes de investigação seguem sem respostas. Embora o STF, o MPF e a PF tenham avançado na punição aos executores dos atos, os principais financiadores do 8 de janeiro ainda não foram todos identificados. Os atos golpistas foram investigados em ao menos cinco frentes. No MPF e na PF, a partir da abertura dos inquéritos no STF, na Abin, na Polícia Civil do DF, que investiga falhas na segurança pública do DF, na CPMI dos Ataques Golpistas e na CPI da Câmara Legislativa do DF.
Entenda
A dificuldade está em comprovar o envolvimento de cada um deles, já que em alguns casos o financiamento foi pulverizado em pequenas transferências de R$ 200 a R$ 300 e até com doações de alimentos e aluguel de ônibus para os invasores. Outra dificuldade é com a autorização para as quebras de sigilo. A Abin, por exemplo, rastreou 83 pessoas e 13 organizações que contrataram os ônibus, mas o relatório final da CPMI dos Ataques Golpistas só identificou e denunciou 16 financiadores: 13 são fazendeiros. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que foi relatora da CPMI, disse que essa é a frente de investigação ainda sem avanços.
“No meu entendimento, é uma das investigações que acabou e não avançamos muito, não falamos. Mas nós da CPI denunciamos e nós conseguimos, na verdade, detectar algumas das empresas que participaram de forma direta em relação a financiamento, sobretudo a acampamento, à mídia, com alimentação“. Afirma a senadora maranhense. Outra parte da investigação ainda sem resposta é sobre a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Outros pontos de vista
O subprocurador-Geral da República Carlos Frederico Santos, que coordena as investigações do 8 de janeiro, disse que existem duas investigações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro: antes e depois dos atos. E frisou que o foco agora é desenvolver essas fases. O que também segue sem resposta é a real participação das Forças Armadas no dia 8 de janeiro. Um ano depois, não houve, por exemplo, responsabilização de integrantes das Forças. E também não está comprovado se algum integrante do governo Lula facilitou as invasões.
O professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenador dum grupo de estudos sobre Forças Armadas, Pedro Villas Boas Castelo Branco, considera que a falta de respostas tenha relação com um temor por parte do governo. “As respostas não foram dadas, membros do alto comando que deveriam ter sido punidos, ou pelo menos ser processados e transformados em réus, não foram. As provas não são poucas. A gente via o recuo, diante do que foi dito, que não adiantava se esconder atrás de uma farra, que os militares seriam punidos. Eu acho que tem muito recife, tem muito temor“.
Outra frente ainda sem resposta é a conexão dos atos com ao menos outros dois episódios: a minuta do golpe, elaborada um mês antes, e encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres. E o suposto plano denunciado pelo senador Marcos do Val (Pode-ES) que consistia em grampear o ministro Alexandre de Moraes. Os casos são tratados pelos investigadores como correlatos.
Fonte: CBN, com adaptações