Marcos do Val é senador da República
Segundo um ditado alemão, se um nazista se senta à mesa de jantar com 10 pessoas e nenhuma se levanta, então serão 11 nazistas jantando. Essa máxima também vale para quaisquer ditadores – sejam os à direita, como os nazistas, seja os à esquerda, como o caudilho venezuelano Nicolás Maduro, a quem Lula recebeu em Brasília com pompa e circunstância na última segunda-feira (29).
Lula não cansa de repetir que a democracia é um valor a ser defendido das ameaças que estaria enfrentando no Brasil, mas parece que isso só vale mesmo para os seus conterrâneos da oposição. Paradoxalmente, da parte dele não faltam homenagens, saudações, sorrisos e abraços para ditadores que compartilham a sua mesma orientação ideológica em outros países. Para o nosso presidente, seus adversários são verdadeiras ameaças à democracia, mas essa premissa não pode ser aplicada a seus aliados.
Desde o final dos anos 1990, regime Chávez-Maduro vem estrangulando as instituições democráticas venezuelanas, condenando toda a população a um arbítrio de incompetência e corrupção, que descambou numa das piores crises migratórias e humanitárias já ocorridas na América do Sul. Enquanto o Tribunal Supremo de Justiça foi aparelhado por magistrados teleguiados pelo ditador, e a Assembleia Nacional foi alijada de seus poderes e ameaçada de fechamento, milhões de venezuelanos miseráveis se lançaram pelas fronteiras dos países vizinhos – entre eles o Brasil – em busca de dignidade, segurança, emprego e alimento para si e suas famílias.
O Partido dos Trabalhadores, ou o seu líder máximo, Lula, jamais ergueram um dedo para condenar o descalabro na Venezuela. Ou na Nicarágua, onde Daniel Ortega segue o mesmo ideário chavista, ou em Cuba, que há mais de 60 anos não sabe o que são eleições plurais e livres. Ou onde mais houver um ditador de tendências de esquerda, como a China ou a Coreia do Norte.
A verdade é que, para Lula e o PT, atropelar a Constituição, sufocar o Congresso, manipular o Judiciário e abusar das Forças Armadas são subterfúgios válidos para estabelecer e defender um regime profundamente corrupto e elitista, disfarçado com um ideário pseudomarxista. Na nossa história recente, já vimos bem de perto a tentativa de se impor por aqui a falácia de que não há problema um governo roubar se esse roubo for, em tese, para ajudar ao partido e, por consequência, aos mais pobres que ele diz defender. Graças a Deus as instituições democráticas brasileiras foram fortes o bastante para resistir e impedir que essa agenda fosse implementada por aqui. Mas aqui vale a pergunta: até quando resistirão?
Sejamos francos: quando Lula afaga ditadores, revela o quanto o seu discurso democrata é, na verdade, falacioso e demagógico. O seu aparente respeito ao papel que a Constituição lhe atribui e às instituições democráticas mostra-se meramente ocasional, válido somente enquanto não surgir a oportunidade política para subverter tudo de uma hora para outra e, assim, se firmar como um caudilho tal qual os companheiros que homenageia.
Se eu estiver errado – e, de todo o coração, espero estar – então por que o silêncio de décadas? Por que a conivência? Por que a vista grossa e os ouvidos moucos ao que os irmãos venezuelanos que cruzaram a fronteira em Roraima não cansam de contar? Por que o desmando, a corrupção, o crime, a opressão, a perseguição e a miséria, quando consequências dos desastres conduzidos pela esquerda, são aceitáveis para Lula e o PT? O que há por trás dessa mal disfarçada simpatia?