De moeda comum a mobilidade estudantil, o presidente apresentou 10 propostas em fórum, em Brasília, com presidentes da América do Sul.
Na manhã de ontem, dia 30 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura do evento no Palácio do Itamaraty, e reforçou a necessidade de integração para o desenvolvimento da região (América do Sul). Ao todo,10 chefes de Estado participaram do encontro, em Brasília. Outrossim, o presidente propôs 10 temas para discussão entre os presidentes e representantes que participaram da reunião da cúpula na Capital.
Antes de sugerir as medidas, o presidente deixou claro que as iniciativas eram apenas sugestivas, e que os temas ainda seriam discutidos ao longo do dia pelos mandatários sul-americanos. A proposta é que, com base nas decisões tomadas na reunião de ontem, o grupo tenha 120 dias para apresentar propostas de integração para a América do Sul.
A PAUTA
Entre as questões para análise, estão medidas para ampliar a integração dos países da região na área energética, em acordos comerciais e na mobilidade de estudantes e pesquisadores. Lula diz ter firme convicção de que é preciso reavivar o compromisso com a integração sul-americana. O presidente também reforçou o desejo de estabelecer uma moeda local para o comércio na América do Sul, em vez do dólar (veja lista abaixo).
- Moeda comum: criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais e mecanismos de compensação mais eficientes. Entenda melhor o projeto encabeçado pelo Brasil.
- Economia: colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando os bancos de desenvolvimento como a CAF, e o Fonplata, o Banco do Sul e o BNDES.
- Regulação: implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de exportação e importação de bens.
- Atualização da cooperação: ampliar os mecanismos de cooperação de última geração, que envolva serviços, investimentos, comércio eletrônico e política de concorrência.
- Infraestrutura: atualizar a carteira de projetos do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), reforçando a multimodalidade e priorizando propostas de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira.
- Meio ambiente: desenvolver ações coordenadas para o enfrentamento da mudança do clima.
- Saúde: reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, a fim de permitir adotar medidas para ampliar a cobertura vacinal, fortalecer o complexo industrial da saúde na região e expandir o atendimento a populações carentes e povos indígenas.
- Energia: lançar a discussão sobre a constituição de um mercado sul-americano de energia, que assegure o suprimento, a eficiência do uso dos recursos da região, a estabilidade jurídica, preços justos e a sustentabilidade social e ambiental.
- Educação: criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior, algo que foi tão importante na consolidação da União Europeia.
- Defesa: retomar a cooperação na área de defesa com vistas a dotar a região de maior capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria militar, de doutrina e políticas de defesa.
Durante o discurso, Lula ressaltou o desejo de aproximação entre os países da região para fortalecimento local. Falou, ademais, sobre a criação dum grupo formado por representantes pessoais de cada presidente, para aprofundar o debate sobre as questões.
O sonho americano
Estrategicamente falando, poderia até ser uma boa ideia formar uma nação sul-americana, como as 13 colônias formaram a América do Norte. Contudo, raízes coloniais diferentes, digo, origens ibéricas, podem ser uma obstante a ser lapidada, culpa do Tratado de Tordesilhas. Ademais, o nosso modelo republicano nasceu diferente dos nossos vizinhos da América do Sul. Cá, surgiu duma Monarquia que, de forma equivocada, parecia falida; “lás”, dumas comunidades espanholas que, com muito derramamento de sangue, formaram-se Coisas Públicas. Resultado: mais de 200 anos de ideologias divergentes e, consoante o presidente atual, da situação-esquerda, a gestão anterior permitiu que essas diferenças ideológicas afastasse ainda mais o Brasil dos fóruns regionais de integração; política de governo, claro. Nobre leitor, formar uma espécie de nação, ou mesmo um bloco político e econômico na América do Sul é pouco provável. O Novo Mundo teve muitas diferenças na sua colonização e, portanto, o que houve com os Estados Unidos da América do Norte não poderia haver com os Estados Unidos da América do Sul. Ora, seria um pesadelo mundial tê-las assim: duas grandes potências separadas apenas pelo istmo do Panamá; sê-las-ia a Armadilha de Tucídides.
Harrison S. Silva, colunista do Portal Política