Os deputados membros da Comissão dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) assinaram moção de pesar e repúdio pelos assassinatos de Maria Célia de Santana e Viviane Cristina Leite Soares, durante operação policial no bairro do Curuzu, em Salvador. No documento legislativo lembraram que eram mulheres negras, moradoras “de um dos maiores bairros negros fora da África”, “que foram brutalmente assassinadas durante uma operação policial”.
Elas foram atingidas enquanto estavam sentadas na calçada, no último dia 5, “como tantos e tantas fazem habitualmente naquele bairro”, conhecido como um corredor cultural “de grande relevância para a população local, para a Bahia e para o Brasil, já que grandes nomes nacionais e internacionais são atraídos pelo Ilê Aiyê”, bloco afro que nasceu ali, virou “uma grande referência” artístico-cultural e construiu no local a sua sede própria, a Senzala do Barro Preto.
Maria Célia, conhecida como Morena, era foliã e frequentadora assídua do Bloco Ilê Aiyê, no qual desfilava “simpatia e alegria”. Já Viviane Cristina, ex-aluna da Banda Erê do Ilê, cresceu “na efervescência cultural do Curuzu”. Elas eram vizinhas. “A porta de casa era o ponto de encontro de ambas. Certamente, pensavam que estavam seguras ali, mas uma desastrosa operação policial, como tantas que já aconteceram e continuam acontecendo, destruiu as vidas dessas mulheres, causando dor e indignação entre familiares, amigos e grande parte da sociedade baiana”, disseram os deputados.
Segundo os parlamentares, há muito os bairros populares de Salvador, novos e antigos, têm sofrido com a violência. “E, infelizmente, muitas vezes, o próprio aparato da segurança pública, que deveria proteger a todos e todas, independente de raça, credo ou classe social, promove verdadeiras cenas de guerra contra a população negra, pobre e vulnerabilizada”.
A política de guerra às drogas tem revelado “um alto custo de perdas de vidas humanas nas periferias”, muitas vezes de crianças, jovens e adultos que nada têm a ver com o tráfico. “São vidas que deveriam ser poupadas e protegidas pelo Estado e se perdem de maneira estúpida e banal”.
“Estamos numa pandemia, onde 64% dos óbitos são de pessoas negras de baixa renda”, informou o documento, ao defender que “nosso povo não pode continuar nessa dança macabra entre o vírus e o tiro. Mulheres negras e homens negros são seres humanos que precisam ter os direitos sociais respeitados, principalmente o sagrado direito de existir”.
Os deputados solidarizaram-se com “todos os familiares, amigos, vizinhos” de Maria Célia e Viviane, e conclamaram o governador Rui Costa e as autoridades da Segurança Pública do Estado a adotarem as providências necessárias para apurar este e outros crimes “reveladores do despreparo de parte da polícia baiana. Que se apure as responsabilidades e se puna os envolvidos, que seja evitada a reincidência, a ocorrência de novos fatos com novas vítimas. A vida é o nosso bem maior e deve ser preservada”, afirmaram os deputados.